Arquivo para novembro, 2008

Resíduo

Posted in idéia não tem dono, o mundo (essa folia) on 30 de novembro de 2008 by mari messias

Eu tive uma professora que quase nenhum dos meus amigos gostava mas eu amei. Ela chegava, sorumbática e definitiva, e ia ensinando teoria com poesia e parecia que estava esbofeteando os alunos. E falava de teóricos que muita gente não celebra e eu gosto (paizinho, por exemplo) e do valor de cada teoria com tanto afeto que eu, toda abismadinha da estrela, as vezes tinha que sair da sala de tão comovida que ficava.

O poema que ela mais citava, exemplificando como por mais que uma linha negasse a outra elas sempre se inteligavam cosital, era Resíduo do Drummond.

Drummond, coitado, um injustiçado pelos fãs velhacos que o leem com aquele olhar vazio de quem procura literatura de coração_carente_RJ. É esse tipo de gente que pega um Mar Português e esfrega na merda e no asfalto e esfola quase o suficiente pra anular a bomba de beleza que é.

Eu acho Drummond foda. Difícil admitir isso sem soar fã de Picasso (que eu odeo). Drummond consegue escrever de sexo, amor e amargor com o ritmo que cada coisa merece. Sabe ser doce e leve e violento e brutal quando precisa. E isso é coisa de pouca gente. E mesmo quando é leve e doce rola um certo aftertaste amargo.

Ok, as vezes ele faz poesia de velhaco, mas não acho que essa seja a regra.

Proposta: Esqueça o resto do mundo. Inspire. Expire. Resíduo.

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
― vazio ― de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.

De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil…
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver… de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

COCANHA

Posted in idéia não tem dono, nadavê véiô, o mundo (essa folia) on 30 de novembro de 2008 by mari messias

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Cocanha (Cucaña) é um dos vários países mitológicos medievais que supriam através do imaginário o que faltava ao pessoalzinho no mundo físico. Lá sobrava comida e bebida sem que pra se conseguir isso fosse preciso trabalhar. Cito um trecho em inglês, que só achei dessa maneira na véb:

In Cokayne there is food and drink
Without care, anxiety and labor.
The food is excellent, the drink is splendid,
At dinner, snack time, and supper.
I say in truth, without doubt,
There is no land on earth its equal.

Falo de Cocanha pois esse final de semana passei por um lugar deveras deprimente chamado Cocanha, achei tão pós-moderno. Mas as fotos, obviamente, sairam totalmente fora de foco.

Não tenho como comprovar, mas creiam. Hotel Paraíso de Cocanha era um Resort, por falta de nome melhor, de beira de estrada totalmente abandonado ao mato com uma piscina de dengue imortal e uma paisagem inóspita que ia do nada para a porra nenhuma.

Eu imagino que o nome deva estar relacionado com o nome do local, que deve ser Cocanha porque alguém com baixas expectativas de vida olhou para aquele mato e disse: EIS COCANHA.

E quantas Cocanhas devem haver nesse mundão de meodeos, tão ou mais deprimentes quanto.

Admito, entretanto, que poucas coisas na vida me cativam tanto quanto esses mundos, países, ilhas flutuantes, lugares, enfim, perfeitos, ideais. Eldorados, Pasárgadas, Terras Brasilis. Ainda que agora nós, seres da ultra-modernidade, acreditemos que estamos livres disso, não acho que essa seja a verdade absoluta. Mesmo que nenhum de vocês que esteja lendo isso agora acredite em Paraíso, terreno ou divino, a maior parte de vocês tem idéias bem fortes de redenção. De Cocanhas de algum dos sentidos, vá lá.

Se não acreditamos mais em uma terra onde as coisas da sobrevivência são incrivelmente facilitadas, acho eu, é porque na maioria das vezes não precisamos mais disso. Por mais que tenhamos nossas reclamações, temos vidas boas, afinal.

Mas mesmo meus amigos mais céticos, em seus lapsos de humanidade, já revelaram seu anseio por Cocanha. Seja do amor, seja espiritual, seja profissional, enfim. É bonitinho, vá. Nós sempre botando banca de supermodernosracionaisdetimmaia e na hora do vamos ver é a mesma palhaçada.

Eldorado, EU ACREDITO.

(adoro a versão ilha flutuante onde nunca somos capazes de chegar)

XP |||||||||||||||||

Posted in deveras pessoais, nadavê véiô on 25 de novembro de 2008 by mari messias

Me olhei no espelho saindo do banho, antes de me cobrir de cremes e apetrechos da pós-modernidade que nos fazem esquecer que vamos morrer e ri do tamanho das minhas olheiras.

Nos últimos anos eu tive uma dor que me acompanhou. Uma dor física, fique claro. Fui em muitos MUITOS médicos. Ortopedistas, fisiatras, reumatologistas, neurologistas, you name it, eu fui. Em mais de um de todos. Nenhuma unanimidade. Fiz fisioterapia, nada mudou. A dor seguia. Me acostumar nunca acostumei, que dor não é legal. Dor muda tudo. Tinha dias que mal conseguia andar de dor.

Então no acaso descobri o motivo da dor e envolvia falta de sono reparador. E sinta o drama. Foram aproximadamente seis anos sem sono reparador. Fato é que trazendo o sono reparador de volta a dor saiu e a (não direi) voltou lindinha e eu me preparo pro dia que enfrentarei o Minotauro. Hshshshs.

Por isso eu posso rir das minhas olheiras, elas tem várias coisas em si. Tem superação de dores diversas e representam imperfeições das quais me orgulho. Eu gosto de imperfeição. Agora posso ver meus amigos mais próximos fazendo auto-piadinhas mentais sobre isso.

Mas eu gosto mesmo, nunca escondi. E isso afeta vocês, meus afetos como um todo. Nunca o que me atrai para as pessoas são suas qualidades, somente, são sempre suas qualidades interagindo com seus defeitos. Eu prefiro umbigo que falta dele.

Enfim, claro que existem Munchausens loucos pelo mundo que querem que todos sejam insipidos inodoros e incolores, mas a maior parte das pessoas gosta de gente de verdade, né? Ou tou errada?

E logo aviso que nem tanto pela sensação de familiaridade gerada pelo: também vós sois fodido, quanto pelo encanto sui generis de cada defeito. Mas as qualidades também são sui generis, dirão os hereges. Eu não sei. Podem ser, algumas. Mas as qualidades mais sui generis se confundem com defeitos, porque burlam, defeitos são transgressores. Onde esperamos encontrar uma coisa os defeitos nos surpreendem. ADORO.

Novos prismas defeituosos e bizarros.

Meus grandes amores foram desajustados. De um jeito ou de outro ou de ambos. Amores assexuados e sexuados, ie, amigos e namorados e pessoas que quis orbitar em torno de forma geral.

E por isso eu sempre defendi a liberdade escatológica pessoal e ramificações que venham daí. O ser humano não foi feito pra ser o que se espera dele, ele tem que ser um pouco mais, no pior sentido possível, eu acho.

Então, se eu o amo, TEMA.

(título nadaver, mas ficou bonitinho, me deixa)

EM TEMPO: Eu estava falando do Rodrigo Minotauro, antes que me confundam com leitora de Cortazar ou cos’que o valha. Hshshshshshs.

Arrrrrrrrrr

Posted in o mundo (essa folia) on 23 de novembro de 2008 by mari messias

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Em 95 dois amigos sem mais nada pra fazer e possivelmente grunges inventaram uma comemoração para celebrar a pirataria em seu ápice pós-moderno: a galhofagem dialetal. Super popular nos países de língua inglesa, onde a pirataria foi uma profissão legalizada com carteira assinada pelo Rey coisital, o feriado tem frutos.

No dia de hoje, 23 de novembro, comemora-se o Fuck Like a Pirate Day. Que porra quer dizer isso? Segundo Marx quer dizer detonar e depois largar na prancha. Segundo o site envolve Rum. Eu não faço a menor idéia. Mas se envolve pirataria me sinto no dever de difundir. Pegue seu par, seu melhor tapa-olho e saia pra farra, herege.

http://www.fucklikeapirateday.com/

http://www.talklikeapirate.com/

(ainda: Um feo processou um município do ACRE que o impediu de celebrar o FLAPD. Leia a notícia aqui)

O Destino dos Monstros (trecho)

Posted in idéia não tem dono on 21 de novembro de 2008 by mari messias

A convivência com os monstros – e desde os primórdios – levou o mundo cristão a usá-los também para definir a Divindade

(…)

Mesmo no período renascentista, os monstros assumem funções amigáveis e em virtude justamente de sua impressionante feiúra. Desde a Antiguidade, nas artes da memória, por exemplo, aconselhava-se, para conseguir lembrar de palavras e conceitos, a associá-los aos diversos aposentos de um palácio ou aos diversos locais de uma cidade onde apareciam estátuas horripilantes, difíceis de esquecer.

(…)

Os monstros terão, por fim, um enorme sucesso no universo heterodoxo dos alquimistas, onde simbolizarão os vários processos para se obter a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida – e podemos supor que para os adeptos das artes ocultas eles não pareciam assustadores, mas maravilhosamente sedutores.

(IN: ECO, Umbertão. História da Feura)

Reações Adversas

Posted in maconha, poesia visual, reações adversas on 20 de novembro de 2008 by mari messias

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Novidades! Novidades!

A bloga entra em ritmo de ano novo e cheia de melhorias!

Primeiro, é com muito orgulho que digo que ganhamos o Troféu Pangloss, de melhor dos blogs possíveis. Foi uma votação difíceu, mas com a ajuda dos nossos leitores, mais uma vez prosperamos.

Depois, criei uma catiguria (poesia visual) para dividir com vocês esse talento que brota em mim. Mais esse né, gente. O das artes visuais. Depois pretendo fazendo bordado em ponto cruz, pintura em cerâmica, ninguém me segura.

Uh, as energias do ano novo, já posso sentir.

Então era isso.

Beijo e me liga, ein, travesti.

(ócio de anus é penis)

A insignificância cotidiana

Posted in deveras pessoais, maconha, super internet world on 19 de novembro de 2008 by mari messias

mumiaBom, imagino que maioria de vocês tenha mais coisas pra fazer da vida que ler essa bloga, então digo que logo no começo falei que estava fazendo isso como uma das iniciativas de alterar alguns pontos da minha existência. Nesse caso, a timidez quase fóbica. Eu sou tímida, sempre fui, possivelmente morrerei assim. Mas estava de tal forma tímida que sentia que parava de respirar na presença de oitros seres humanos. E é isso. E minha idéia de bloga é um tanto darwinista e um tanto reggaeira. Sobreviver trocando uma idéia, Jah.

Salvo raras iniciativas, como as aqui citadas do teatro de comentários e do blog do soldado raso do Odisseus, blog pra mim sempre foi issae mermo. Darwin+Jah.

Aí existem aqueles blogs especializados que tu vai procurando coisas específicas, tipo o Gizmodo. Mas blog pessoal, como o nome diz, só interessa pro teu pessoalzinho.

Então hoje li um texto que fala que os blogs são os novos Wunderkammer. Tipo coleções pessoais de bizarrias. Deixa eu citar um pedaço pra ficar mais claro:

That is to say, the genealogy of Web logs points not to the world of letters but to the early history of museums — to the “cabinet of wonders,” or Wunderkammer, that marked the scientific landscape of Renaissance modernity: a random collection of strange, compelling objects, typically compiled and owned by a learned, well-off gentleman.

Já de saída fico de cara porque o pessoal adora essa coisa de reencarnação. Eu mesma gosto muito de traçar paralelos, meu jogo favorito. Quem tu é em tal filme, em tal livro, em tal situação, coisital. Mas é bobeira, eu sei. É só um jogo de conhecer as pessoas, saber como elas se veem. Divertido, mas nada definitivo.

Eu acho que isso, quando deixa de ser joguinho de entretenimento em rodas de amigos passa a ser uma dificuldade fodida de ver sua propria insignificância.

Oh, meu blog. Enfia no cu, ermão.

E aviso logo o que me afasta deste conceito: acho que, salvo pessoas como eu que tem Síndrome de Stendhal, não existe mais se abismar com as coisas como existia naquela época. Não existe similar a múmia pruma criança/jovem/adulto daquela época hoje em dia.

Veja bem, se eu vejo uma múmia, hiperventilo, choro, acho que desmaio. Amo múmias como amo minha vida. Mas naquela época uma múmia era o desconhecido. Hoje, o desconhecido é o desconhecido. Não existe desconhecido para se conhecer na web.

Não que conheçamos tudo, jamais. Mas temos a doce sensação de que podemos alcançar todo o conhecimento que quisermos pela web, que só não o fazemos porque não queremos/podemos/tivemos tempo. Tantos estudos sobre as angústias que isso causa, excrusive.

Conhecer o conhecimento alheio, tem muito, deixou de ser como era. Conhecer deixou de ser como era.

Sem dramas, sem saudosismo. Nada disso me agrada. Especialmente nesse contexto. (Já estou admitindo saudosismo em alguns contextos, mas com pesar)

Só digo que por esse motivo não existem novas Wunderkammer, minha opinião, mesmo sem saber a tradução literal dessa merda. Assim como não existem novas (insira algo que é eterno pra você e que ficou no passado e que você jura, mas jura, que não deveria ser uma tecnologia ultrapassada, choramingão).

(eita: esqueci de dizer que certamente Moj vai me corrigir. O começo dos Weblogs era uma compilação de links como o Stumble, coisital, coisital. Meu ponto inda serve nesse caso, mermão.)

Gênios do meu Brasil

Posted in o mundo (essa folia), quotes da rapeize on 19 de novembro de 2008 by mari messias

Sempre causando impacto (profundo), Gretchen nos brinda com mais um prisma de suas maçãs do rosto genialidade que não conhece limites, resumido abaixo pelos comentaristas Eu e Marx, claro.

Britney Spears & Justin Timberlake diz:
A cantora Gretchen vai finalizar sua “trilogia” no cinema pornô com o lançamento da produção A Rainha do Bumbum, pela produtora Brasileirinhas.
mari diz:
TRILOGIA
mari diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHA
mari diz:
MORRO
Britney Spears & Justin Timberlake diz:
HAHAHAHAA
Britney Spears & Justin Timberlake diz:
ANAL WARS
mari diz:
é a senhora dos aneis

Se foder com Buñuel. Eu voto em Brasil. É grotesco, é sem sentido, nossa. E o troféu Melhor dos Mundos Possíveis continua conosco. :D

Remix

Posted in quotes da rapeize on 17 de novembro de 2008 by mari messias

Marcel diz:
body modification de mendigo
mari diz:
aeeeee
mari diz:
voltou a soltar as maqsimas marcel
mari diz:
hahahahahaha
Marcel diz:
what can i say?
mari diz:
im FODA

Centro

Posted in deveras pessoais, o mundo (essa folia) on 17 de novembro de 2008 by mari messias

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Eu nunca gostei muito do Centro de Porto Alegre. Mas, depois da epifania Forrest Gump, ele mudou para mim.

Muita gente que eu conheço e respeito curte o centro por motivos bem diferentes dos que eu vou citar. Pela história, os prédios, lembranças afetivas, luzes poéticas, enfim.

Eu sempre chamei o centro de Império dos Sentidos. Impossível dar dois passos sem levar duas lufadas de odores extremamente fortes. Tudo fede, todos são horríveis, tudo é sujo e cheio de gente. Eu não gosto de ficar em lugares amplos e cheios de pessoas. Eu não gosto de excessos de odores. Eu não gosto de tocar em coisas e sentir gosma de mão (o TOC venceu).

Mas agora eu aprendi a apreciar o centro. Exatamente por isso. Porque ele é feio e excessivo. E enquanto eu me sento na minha assepsia cotidiana e brinco de esquecer a violência que é existir, o centro nunca esquece. Toda esquina fede a mijo centenário.

Um dia eu simplesmente não consegui dormir direito. Estava com a cabeça tão acelerada que, no lugar de ir pra aula, comecei a andar. Sem pensar pra onde tava indo. Sem poesia aqui, a sério. Fui pro centro. Depois fui pra outros lugares, andei por quatro horas sem parar, mas sempre voltei pro centro. Porque tinha alguma coisa no centro que diminuía o caos que estava na minha mente. E daí eu entendi porque tantos mendigos chamam o Centro de Noruega. Se eu sumir, me procurem no Centro. Possivelmente envolta em uma bolha, mas no Centro. Hshshshs.

O centro tem seus próprios costumes, modas, dialeto. Com o fim do VT, o centro perdeu sua moeda corrente, mas boto fé que inventara algo novo em breve. (Pra quem não é de PoA: aqui tinhamos vale de ônibus que eram fichinhas, aceitas para tudo no centro: comida, roupa, cigarro, TUDO MERMO. Agora foram substituídas por uma carteirinha e o encanto acabou. Acho triste). Hoje mesmo fiquei assistindo enquanto Lemmy vendia uma colar de colocar crachá para um skatista genérico e soube: colar de colocar crachá ta bombando no centro.

Dentro dos bairros alguns lugares tentam reproduzir esta mística Gummo de ser. Pedacinhos de Saigon, que são. Como o Pik Xis, antigo núcleo da resistência ao bom gosto e modos aristocráticos, atualmente abandonado pelo pessoalzinho mas sempre no coração de seus nativos.

Eu, como criadoira e expoente máqsimo (perdendo, talvez, para Mox) do movimento/grife Sebowear finalmente saio do armário e grito, plenos pulmões: CENTRO É GLAMOUR DE DEGREDO.

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