AVISO: Esse post será muito pessoal (e hermético, possivelmente), não quer ler, vaza.
Drummond tem um poema, muito amargo, que chama os ombros suportam o mundo, onde ele fala sobre uma época (ou um momento, como eu prefiro ver) no qual não se ama, não se chora, não se sente falta e sequer adianta morrer. Apenas se é, “a vida é uma ordem”.
Admito que hoje, quando acordei no meio de um sonho e falei alto: nonada, era assim que estava me sentindo. E me senti assim muitas vezes nos últimos meses. Porém, não se preocupem, estou longe de me sentir assim sempre e, acredito, não o farei.
Ocorre que nessa vida somos ensinados a ser (e veja que coisa, somente com sentimentos), mornos. Admito que nunca fui muito dessa vibe, veja bem, minha citação favorita do Apocalipse (3’16) é “Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca”. Mas em algumas situações ainda me sinto condicionada a acreditar que é pouco polido sentir. E falar ganha outro peso. E como nada pode ser feito, apenas se suporta o mundo.
Na verdade, em algumas situações os sentimentos extrapolam-se e tem seu sentido original substituído por algum outro, normalmente pior. Vou tentar explicar melhor o que eu quero dizer.
Logo que eu perdi minha amiga, dois meses atrás, resolvi ler e assistir tudo que parecesse minimamente útil, pra tentar entender e lidar melhor com isso tudo. Revi todo o Six Feet Under (de um jeito bem diferente, btw), li uma série de artigos e livros, mas a única coisa das que eu li que me tocou e que eu relembro todos os dias desde então foi da Joan Didion, sobre o novo livro onde narra a morte da filha. Não achei mais a quote original, mas ela dizia algo como: tudo o que eu li sobre luto era muito polido e esqueceu de comentar que luto parece mais loucura que qualquer sentimento que já tenhamos tido.
Identificar essa loucura em processo foi, pra mim, a melhor maneira de tentar domar a dita. Não esperava nem espero sempre conseguir. Não sou maluca de fato. Espero que o sentimento viva seu fluxo, mas criei uma barragem para ele saber que só pode existir dentro do perímetro especificado.
De toda forma, acho lindo e saudável sentir, externar sentimento, só não estou disposta a cair no chão feito um boneco de pano. E foi assim que tenho medianamente conseguido fazer isso.
E acho que o motivo mais especial para querer isso são as pessoas.
De toda forma, se existe um lado positivo nesses momentos da vida é descobrir, no meio de toda essa desolação, as pessoas. Possivelmente por, como disse o Drummond, não se esperar nada, conseguimos ver as pessoas. E acho que isso passa a ser um norte maior.
Nunca fui das pessoas mais crentes que conheço. Leio livros de Zen pq me fazem sentido. Não acredito em reencarnação, nem em carma como milhagem, acredito em tentar viver com compaixão e omildade. Sem esperar nada, mesmo. O mundo não vai me pagar, não vai *PUFF* ficar massa, mas eu acho que isso é o que falta, especialmente pra minha vida (de-mim-pra-mim-saca). E isso, também, tem relação com as pessoas.
Em alguns momentos fica difícil sequer pensar em qualquer tipo de divindade sem sentir coisas palha. Ou pelas pessoas, essas tolinhas, ou pela suposta divindade, essa pau no cu.
Desculpe, acho complicado quem encontra Zeus, Deus, Eus na miséria.
Mas em todos os momentos, bons ou ruins, é possível pensar como um pouco de capacidade de sair de si, abandonar o embigo, torna/tornaria aquele momento melhor/menos pior.
Try a little tenderness, mesmo.
E, bom, não tenho um final pra esse post, que ele é do ramo das coisas reais e segue acontecendo.
Mas como não curtiria ser uma dessas pessoas que simulam que a vida segue ilesa, mesmo com todo solavanco, também não curtiria que esse blog e minha vida como um todo simulasse estar alheio. É como disse o Eco, e eu cito pela décima nona vez:
Se você interage com as coisas em sua vida, tudo muda constantemente. E se nada muda, você é um idiota.
Então podscrê, nos vemos nas quebradas.