Arquivo para novembro, 2011

Consolo na Praia

Posted in idéia não tem dono on 30 de novembro de 2011 by mari messias

Vamos, não chores…
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.

Drummond, um amargo querido

(a imagem é do tumblr Grifei num Livro)

Endings

Posted in idéia não tem dono on 27 de novembro de 2011 by mari messias

Things do not explode,
they fail, they fade,

as sunlight fades from the flesh,
as the foam drains quick in the sand,

even love’s lightning flash
has no thunderous end.

it dies with the sound
of flowers fading like the flesh

from sweating pumice stone,
everything shapes this

till we are left
with the silence that surrounds Beethoven’s head.

Derek Walcott

Os ombros suportam o mundo

Posted in degredo no olimpo, deveras pessoais on 16 de novembro de 2011 by mari messias

AVISO: Esse post será muito pessoal (e hermético, possivelmente), não quer ler, vaza. 

Drummond tem um poema, muito amargo, que chama os ombros suportam o mundo, onde ele fala sobre uma época (ou um momento, como eu prefiro ver) no qual não se ama, não se chora, não se sente falta e sequer adianta morrer. Apenas se é, “a vida é uma ordem”.

Admito que hoje, quando acordei no meio de um sonho e falei alto: nonada, era assim que estava me sentindo. E me senti assim muitas vezes nos últimos meses. Porém, não se preocupem, estou longe de me sentir assim sempre e, acredito, não o farei.

Ocorre que nessa vida somos ensinados a ser (e veja que coisa, somente com sentimentos), mornos. Admito que nunca fui muito dessa vibe, veja bem, minha citação favorita do Apocalipse (3’16) é “Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca”. Mas em algumas situações ainda me sinto condicionada a acreditar que é pouco polido sentir. E falar ganha outro peso. E como nada pode ser feito, apenas se suporta o mundo.

Na verdade, em algumas situações os sentimentos extrapolam-se e tem seu sentido original substituído por algum outro, normalmente pior. Vou tentar explicar melhor o que eu quero dizer.

Logo que eu perdi minha amiga, dois meses atrás, resolvi ler e assistir tudo que parecesse minimamente útil, pra tentar entender e lidar melhor com isso tudo. Revi todo o Six Feet Under (de um jeito bem diferente, btw), li uma série de artigos e livros, mas a única coisa das que eu li que me tocou e que eu relembro todos os dias desde então foi da Joan Didion, sobre o novo livro onde narra a morte da filha. Não achei mais a quote original, mas ela dizia algo como: tudo o que eu li sobre luto era muito polido e esqueceu de comentar que luto parece mais loucura que qualquer sentimento que já tenhamos tido.

Identificar essa loucura em processo foi, pra mim, a melhor maneira de tentar domar a dita. Não esperava nem espero sempre conseguir. Não sou maluca de fato. Espero que o sentimento viva seu fluxo, mas criei uma barragem para ele saber que só pode existir dentro do perímetro especificado.

De toda forma, acho lindo e saudável sentir, externar sentimento, só não estou disposta a cair no chão feito um boneco de pano. E foi assim que tenho medianamente conseguido fazer isso.

E acho que o motivo mais especial para querer isso são as pessoas.

De toda forma, se existe um lado positivo nesses momentos da vida é descobrir, no meio de toda essa desolação, as pessoas. Possivelmente por, como disse o Drummond, não se esperar nada, conseguimos ver as pessoas. E acho que isso passa a ser um norte maior.

Nunca fui das pessoas mais crentes que conheço. Leio livros de Zen pq me fazem sentido. Não acredito em reencarnação, nem em carma como milhagem, acredito em tentar viver com compaixão e omildade. Sem esperar nada, mesmo. O mundo não vai me pagar, não vai *PUFF* ficar massa, mas eu acho que isso é o que falta, especialmente pra minha vida (de-mim-pra-mim-saca). E isso, também, tem relação com as pessoas.

Em alguns momentos fica difícil sequer pensar em qualquer tipo de divindade sem sentir coisas palha. Ou pelas pessoas, essas tolinhas, ou pela suposta divindade, essa pau no cu.

Desculpe, acho complicado quem encontra Zeus, Deus, Eus na miséria.

Mas em todos os momentos, bons ou ruins, é possível pensar como um pouco de capacidade de sair de si, abandonar o embigo, torna/tornaria aquele momento melhor/menos pior.

Try a little tenderness, mesmo.

E, bom, não tenho um final pra esse post, que ele é do ramo das coisas reais e segue acontecendo.

Mas como não curtiria ser uma dessas pessoas que simulam que a vida segue ilesa, mesmo com todo solavanco, também não curtiria que esse blog e minha vida como um todo simulasse estar alheio.  É como disse o Eco, e eu cito pela décima nona vez:

Se você interage com as coisas em sua vida, tudo muda constantemente. E se nada muda, você é um idiota.

Então podscrê, nos vemos nas quebradas.

Os amigos do Oscar Wilde (todos os 3)

Posted in idéia não tem dono with tags on 7 de novembro de 2011 by mari messias
Crazy & Saints
I choose my friends not by their skin or other archetype, but by the pupil.
They have to have questioning shine and unsettled tone.
I’m not interested in the good spirits or the ones with bad habits.
I’ll stick with the ones that are made of me being crazy and blessed.
From them, I don’t want an answer, I want to be reviewed.
I want them to bring me doubts and fears and to tolerate the worst of me.
But that only being crazy.
I want saints, so they daunt doubt differences and ask for forgiveness for injustices.
I choose my friends for their clean face and their soul exposed.
I don’t just want a man or a skirt, I also want his greatest happiness.
A friend that doesn’t laugh together doesn’t know how to cry together.
All my friends are like that, half foolish, half serious.
I don’t want foreseen laughter or cries full of pity.
I want serious friends, those that make reality their fountain of knowledge, but that fight to keep fantasy alive.
I don’t want adult or boring friends.
I want half kids and half elderly.
Kids, so they don’t forget the value of the wind blowing on their faces and elderly people so they’re never in a hurry.
I have friends to know who I am.
Then seeing them as clowns and serious, crazy and saints, young and old, I will never forget that ‘normalcy’ is a sterile and imbecile illusion.

(Oscar Wilde)