Deserto do Real

real

Hoje encontramos no mercado uma série de produtos desprovidos de suas capacidades malignas: café sem cafeína, creme de leite sem gordura, cerveja sem álcool… E a lista não tem fim: o que dizer do sexo virtual, o sexo sem sexo; da doutrina de Colin Powell da guerra sem baixas (do nosso lado, é claro), uma guerra sem guerra; da redefinição contemporânea da política como a arte da administração competente, ou seja, a política sem política; ou mesmo do multiculturalismo tolerante de nossos dias, a experiência do Outro sem sua Alteridade (o Outro idealizado que tem danças fascinantes e uma abordagem holística ecologicamente sadia da realidade, enquanto práticas como o espancamento das mulheres ficam ocultas…)? A realidade virtual simplesmente generaliza esse processo de oferecer um produto esvaziado da sua substância, do núcleo duro e resistente do Real – assim como o café descafeinado tem o aroma e o gosto do café de verdade sem ser o café de verdade, a Realidade Virtual é sentida como a realidade sem o ser. Mas o que acontece no final desse processo de virtualização é que começamos a sentir a própria “realidade  real” como uma entidade virtual.

Zizek

(então, nem ia colocar essa parte, é cliché. com tudo isso, o véi quer explicar sua visão da percepção da recepção dos atentados do WTC. nós que vimos na TV, nossa necessidade de repetição do espetáculo que virou aquilo. fala de quem viveu isso, depois de anos sendo bombardeado com imagens do mundo em colapso, imagens em geral bem mais sombrias que essas das torres, sem membros decepados nem nada. ele fala das conexões com Hollywood que rolaram nos programas de prevenção ao terrorismo, enfim. isso tudo foi pra referência que o Caetano fez de que o café descafeinado não deixa de ser café, segundo ele, indignado, esquema BRASILIS. deslocando a metafora e nem sendo superbacana)

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