For Corso

Como a maioria de vocês, entre infância e adolescência inúmeras vezes acompanhei minha mãe ao seu trabalho e, seguindo eterno costume fetichista e alergênico, ficava me enfiando pelos corredores de uma biblioteca que tinha lá perto. Até pouco tempo atrás ainda mantinha a carteirinha de lá, com a foto ridícula da minha infância e a lista infinita e disléxica de coisas que descobri lá e quase me mataram de alegria.

Um dia, já na adolescência (ainda que não muito), peguei um livro seguindo o princípio do randomismo mágico. Era Corsinho, AKA, Gregory Corso.

Ginsberg, Corso, Rosset

Explodi a cabeça com ele e isso também e me levou pelas ruelas de todos os seus amigs. Como, já na época, eu era fanboy do Henry Miller, o que me deixava fora de mim era mesmo a poesia, que eu lia e soltava um NIGGAPLIZ silencioso na biblioteca, enquanto procurava olhares de “te entendo, bichô”, sem muito sucesso obviamente, que só gente louca acha que vai encontrar solidariedade em livro ou biblioteca ;D

Mas é como diria o próprio Corsinho

The spark of poetry is
within us all
The poem is
the within brought without
A poet is born a
human being
A human being is
not born a poet
It’s the spirit
distinguishes the child from
the child Shelley
“He was not as other men
marked his peers”

Corso by Ginsberg

Com o tempo (e os saldos da feira do livro e o surgimento do meu fluxo de renda), eventualmente comprei (e, admito, afanei. mas não de bibliotecas. sou digna) alguns desses poemas que me fizeram boom mental. Nem sempre meus favoritos, coisa que tento remediar rebaixando o teto do vizinho com sobrecarga.

De toda forma, Corsinho. Quando conheci Moxão, falavamos muito de Corsinho. De como ele ia na casa dos amigos e saía pegando o dinheiro pra si, já que acreditava que dinheiro não tinha dono, era do mundo. E de como botava fé que uma boa amizade envolvia oferecer sua mulher aos amigos em sinal de alegria esquimó. E de como ele era feio pacas, possivelmente o beat menos descolé em seus modos visuais. E realmente sofrido e maluco. E de como ele é um poeta foda e sempre foi muito pouco valorizado.

Irónicamente (e o mesmo aconteceu com Hilst), depois de morto (em 2001) mais gente começou a pagar pau pro maluco-sublime. E se tu acha que eu vou falar mal disso não sacou nada que escrevi até aqui. Quero mais que leiam regozijem façam abluções.

Aqui tem um GoogleBooks com poemas dele, aqui uns poemas e comentários legais (de onde roubei uma das imagens) e poema roubei daqui. Infelizmente, que eu saiba, em português só tem edição antiga da L&PM (que talvez tenha sido relançada em pocket, nem procurei, de Gasolina e Lady Vestal, essa que eu li na biblioteca e depois comprei em saldo na Feira do Livro).

For Homer

[Gregory Corsinho]

There’s rust on the old truths
-Ironclad clichés erode
New lies don’t smell as nice
as new shoes
I’ve years of poems to type up
40 years of smoking to stop
I’ve no steady income
No home
And because my hands are autochthonic
I can never wash them enough
I feel dumb
I feel like an old mangy bull
crashing through the red rag
of an alcoholic day
Yet it’s all so beautiful
isn’t it?
How perfect the entire system of things
The human body
all in proportion to its form
Nothing useless
Truly as though a god had indeed warranted it so
And the sun for day the moon for night
And the grass the cow the milk
That we all in time die.
You’d think there would be chaos
the futility of it all.
But children are born
oft times spitting images of us
And the inequities
millions doled one
nilch for another
both in the same leaky lifeboat
I’ve no religion
and I’d as soon worship Hermes
And there is no tomorrow
there’s only right here and now
you and whomever you’re with
alive as always
and ever ignorant of that death you’ll never know
And all’s well that is done
A Hellene happiness pervades the peace
and the gift keeps on coming…
a work begun splendidly done
To see people aware & kind
at ease and contain’d of wonder
like the dreams of the blind
The heavens speak through our lips
All’s caught what could not be found
All’s brought what was left behind

(os dois brindes são, Corso em NY em 93 lendo o poema, banguele as usual, com musica de Nicholas Tremulis e abaixo o trailer de Corso: The Last Beat, muito mal falado no IMDB, sem som no Youtube, que função, mas né, tentarei baixar, se existir).
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

Uma resposta to “For Corso”

  1. Oi oi oi,

    eu também gosto muito do Corso, seu Corsinho, e da atmosfera beat, desse ritmo anfetaminado, mergulhado no presente tanto que ainda parece presente… Bonitos os videos q cê posta. Eu também afanava livros e nunca de bibliotecas. Assim, acertamos nossas contas com o universo.

    Beijo

Deixe um comentário